Um dos assuntos mais interessantes que tratamos neste programa foi justamente o primeiro. É hilário olhar para trás e perceber que começamos este podcast por acidente com o melhor tema que poderíamos pedir. A escolha foi por acaso, mas também instigada pelos tempos que vivemos. Não existe idéia mais atacada hoje pelos autoritários que a liberdade de pensamento.

Nossos antepassados trilharam um caminho árduo e pedregoso até chegar ao conceito que conhecemos hoje como liberdade de expressão. A história está recheada de idéias e figuras autoritárias, mas é pobre de exemplos quando o assunto é liberdade. E encontramos este comportamento singular tanto na realeza quanto na plebe. Quem lê Shakespeare percebe que em suas histórias a liberdade de falar o que pensa é tão cerceada pelas intrigas, maldades e sede de poder dentro do palácio quanto pelos déspotas que distorcem a autoridade em um exercício de ego sobre os mais fracos.

Somos os sortudos da história então, pois apoiados nas costas de gigantes, herdamos a sociedade mais pacífica que já existiu em que o menor dos cidadãos pode em teoria expressar sua opinião a respeito de qualquer tema, pessoa ou autoridade. Mas esta tão recente guinada histórica em direção à liberdade é atacada incessantemente pelos déspotas, autoritários e revolucionários de nosso tempo. O ataque é motivado pelo pensamento tacanho daqueles que se acham superiores e pensam ter encontrado em sí uma luz divina de sabedoria e eloquencia que ofusca as pobres almas nefastas daqueles que anseiam pela liberdade em sua forma mais simples, pura e bela: a fala.

E foi com esta inquietação que gravamos o primeiro episódio: Liberdade até para falar. Gravamos porque esta é nossa arma contra os autoritários, porque é nossa forma de jogar luz na escuridão e porque a fala é nosso escudo contra a escuridão das almas perniciosas. Calar não é uma opção quando a fala é sua única defesa.